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quarta-feira, 3 de julho de 2013

O Inferno e o Céu

Atacado na própria honra, o samurai teve um acesso de fúria e, sacando da bainha sua espada, berrou: - Eu poderia matar-te por tua impertinência! - Isso é o Inferno – respondeu o Mestre. Espantado por ver a verdade no que o mestre dizia, o samurai embainhou a espada e sorriu, fazendo-lhe uma reverência.
- E isso é o Céu – disse o Mestre.  

A Extraordinária Aventura vivida por Vladimir Maiakóvski no Verão na Datcha


A tarde ardia em cem sóis. O verão rolava em julho. O calor se enrolava no ar e nos lençóis da Datcha onde eu estava, Na colina de Púchkino, corcunda, o monte Akula e ao pé do monte a aldeia enruga a casca dos telhados. E atrás da aldeia, um buraco e no buraco, todo dia, o mesmo ato: O Sol descia lento e exato, E de manhã outra vez por toda a parte lá estava o Sol escarlate. Dia após dia isto começou a irritar-me terrivelmente. Um dia me enfureço a tal ponto que, de pavor, tudo empalidece. E grito ao Sol, de pronto: ¿Desce!!! Chega de vadiar nessa fornalha!

E grito ao Sol: ¿Parasita!!! Você aí, a flanar pelos ares, e eu aqui, cheio de tinta, com a cara nos cartazes!

E grito ao Sol: ¿Espere!!! Ouça, topete de Ouro, e se em lugar desse o caso de paxá você baixar em casa para um chá?

Que mosca me mordeu! É o meu fim! Para mim sem perder tempo o Sol alargando os raios-passos avança pelo campo. Não quero mostrar medo. Recuo para o quarto. Seus olhos brilham no jardim. Avançam mais. Pelas janelas, pelas portas, pelas frestas a massa solar vem abaixo e invade a minha casa. Recobrando o fôlego, me diz o Sol com a voz de baixo: ¿Pela primeira vez recolho o fogo, desde que o mundo foi criado. Você me chamou? Apanhe o chá, pegue a compota, Poeta!

Lágrimas na ponta dos olhos - O calor me fazia desvairar, eu lhe mostro o samovar: ¿Pois bem, sente-se, Astro!

Quem me mandou berrar ao Sol insolências sem conta? Contrafeito me sento numa ponta do banco e espero a conta com um frio no peito. Mas uma estranha claridade fluía sobre o quarto e esquecendo os cuidados começo pouco a pouco a palestrar com o Astro. Falo disso e daquilo... Como me cansa a Rosta², etc. E o Sol: ¿Está certo, mas não se desgoste, não pinte as coisas tão pretas. E eu? Você pensa que BRILHAR é fácil? Prove, pra ver! Mas quando se começa é preciso prosseguir e a gente vai e brilha pra valer!¿ Conversamos até a noite ou até o que, antes, eram trevas. Como falar, ali, de sombras? Ficamos íntimos, os dois. Logo, com desassombro estou batendo no seu ombro. E o Sol, por fim: ¿Somos amigos pra sempre, eu de você, você de mim. Vamos, Poeta, cantar, luzir no lixo cinza do universo. Eu verterei o meu Sol e você o seu com seus versos.

¿O muro das sombras, prisão das trevas, desaba sob o obus dos nossos Sóis de duas bocas. Confusão de poesia e luz, chamas por toda a parte. Se o Sol se cansa e a noite lenta quer ir pra cama, marmota sonolenta, eu, de repente, inflamo a minha flama e o dia fulge novamente. Brilhar para sempre! Brilhar como um farol! Brilhar com brilho eterno! Gente é pra brilhar que tudo o mais vá prá o inferno! Este é o meu slogan e o do Sol.

Vladimir Maiakóvski